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segunda-feira, 8 de julho de 2013

:: Manifestações pelo Brasil; Camacã ::

   
 Caros Jovens Leitores,

Um fenômeno extraordinário vem tomando conta da mídia no último mês, “o povo está nas ruas protestando”! No entanto, é necessário ir além do que a mídia mostra e tenta nos fazer crer. É preciso analisar o fenômeno com olhos e ouvidos (ou um destes sentidos) críticos, aqueles que aprendemos a desenvolver a partir do momento que nos dedicamos à leitura despreconceituosa.
     A rua é, historicamente, um espaço de liberdade e de possibilidades. Espaço público de manifestação de desejos, anseios e crenças. Espaço aberto, espaço criativo e de criatividade.
     No período Medieval, entre os séculos V e X, a ruralização promoveu um verdadeiro obscurantismo nas relações públicas. Os muros dos feudos traziam trancados a sete chaves, os anseios e desejos coletivos (sem contar a retração dos desejos individuais), a introspecção, contenção e o “platonismo” eram as marcas das sociedades medievais europeias. A retomada da vida urbana, a partir do século XI através das Feiras e do ressurgimento do comércio, levou de volta às populações a interatividade através das ruas.
        
  No Brasil, a partir do período Imperial (1822-1889) e, ainda na 1ª República (1900-1930), segundo o Professor Historiador Ilmar Rohloff Mattos,  haviam três ordens de Governo: o espaço do “governo da Rua” que implicava naquilo que não era condizente aos costumes da “boa sociedade”. A rua simbolizava domínio de todos, “espaço da desordem”, da pobreza, da escravidão e seus descendentes, da falta de educação e cultura refinada, enquanto o “governo da Casa” era o “espaço da ordem”, dos bons costumes e da boa educação.
          Entre estes domínios – o da Casa e o da Rua – estava o Governo. Dominado pela “boa sociedade” – elite oligárquica – o Governo atendia às necessidades do “Governo da Casa” que pregava a necessidade de centralização do poder, de um “braço forte” para impedir a desordem de ampliar seu espaço de atuação. Daí a ideia conservadora de “civilização”, “de civilidade”. Isto representava e representa concepções conservadoras de domínio das ruas pelo governo em benefício das elites.
         No mundo Moderno, de transformações velozes e relações fluídas (lembram-se de Baumam?), no Brasil, as ruas possuem conotações amplas: espaço de protesto; de demonstração de poder, da falta dele e da total insegurança e incapacidade de Governo. A Rua é capaz de abrigar desabrigados; de ser ‘out door’ dos que desejam ser celebridades, famosos midiáticos; de desvelar o descaso com o meio ambiente urbano e com os seres vivos urbanos – os humanos; sujeira/limpeza; imobilidade/mobilidade; calçada/descalça(da); presença da arte/bom – mal gosto; espaço político/despolitizado e tantos ostros espaços sem passos.
          O povo (que povo?) está nas ruas reivindicando direitos e melhorias. Mas em que espaços estão buscando a continuidade e as mudanças de governo? A atenção precisa girar em torno da obtenção de resultados a curto médio e longo prazos. O governo da Rua, hoje, está nas mãos das populações reivindicantes, mas e a durabilidade deste governo? A democracia colaborou na criação de instrumentos de governo participativo (povo participando), mas quem está disposto a sair da rua e continuar participando de forma legal e direta da administração da cidade e não só da rua?
          Atenção, Jovens Leitores! O espaço da rua pode ser fluído demais, escorrer por entre os dedos e se esvair pelo asfalto mal feito e permeável. Busque os instrumentos de participação que efetivamente contribui para a continuidade da discussão e da tensão por melhores serviços e melhor gestão dos recursos que governam a Rua e o Governo, sem perder de vista a participação do Governo da Casa (sua, minha casa).
          É hora de lermos as entrelinhas dos interesses subjacentes (das elites) que buscam na ingenuidade do Governo da Rua a necessária condição de agir e tirar proveito em benefício próprio. Sou independente em minhas ações ou sou manipulado em benefício de grupos elitistas? Não haveria uma manobra para enfraquecer as instituições legais já constituídas?
          O que seria mais fácil: ir para a rua com minha bandeira em punho e cantar com a multidão frente às câmeras sedentas por imagens impactantes, ou participar de Conselhos que discutem e encaminham processos, projetos, sugestões e pressões ao Executivo, porém distante das lentes enfurecidas da mídia?
         Vale sempre a pena ganhar um tempo pensando sobre estas questões e outras que certamente surgirão. Só não esqueça de como é importante continuar lendo, lendo, lendo... Palavras escritas, imagens, sons... Ler tudo! Só assim poderemos analisar e decidir sobre o Governo que se quer participar: o da Casa, o da Rua, o do Governo ou de todos estes a partir de um instrumento legal de participação popular.

         As Ruas não excluem os Conselhos (e vice-versa), pode-se participar de ambos, sem deixar de analisar interesses!

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