Quero apresentar-vos a poesia de Castro Alves. Poeta baiano do período
do Romantismo brasileiro que tanto relatou as dores e a luta do povo negro do
Brasil por liberdade, por direitos, por vida.
Viveu no século XIX e teve em sua
poesia a presença constante da natureza, do amor e dos problemas sociais. De
origem negra, denunciava poeticamente a sociedade escravocrata e as mazelas que
permeavam as senzalas e a liberdade que tardava. A Poesia “O Livro e a América”
é uma de suas poesias que me emociona pela viagem na história que realiza com
tamanha propriedade. A Poesia faz parte do livro Espumas Flutuantes, escrito em 1870. Transcrevo abaixo duas
estrofes desta imensa poesia, uma das características de Castro Alves: estrofes
em décima, ou seja, com 10 versos.
Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...
Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.
Em duas estrofes Castro Alves cita o
século XV em que Gutemberg, na Alemanha, inventou a imprensa e Colombo, o
genovês, veio à América. Ele fala da necessidade inerente ao ser humano de
conhecer: “As almas buscam beber...”.
Esta poesia liga a Europa à América e apresenta o livro como fonte inesgotável
de conhecimento.
Tal qual vocês mesmos têm
descobrido, Jovens Leitores, quando o livro “cai
na alma” o pensamento é enriquecido pelas palavras que saem de outros
tantos pensamentos, de outras almas que se conjugam às nossas. [...]
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