Por: Claudete R. Oliveira
Camacã
está completando 51 anos de Emancipação Política e, nada melhor que a indicação
de livros que contam a história do município e as transformações na paisagem
local, ocorridas ao longo do tempo a partir das intervenções de seus
habitantes.
As novas gerações
precisam conhecer a história dos seus antecedentes para se constituírem
protagonistas de sua própria história.
As monografias dos
Professores Luiz Cláudio Zumaeta Costa e Renato Zumaeta Costa dos Santos,
filhos de Camacã, foram publicadas em 2007 pelos Cadernos do CEDOC (Centro de
Documentação e Memória Regional da UESC) através da Editora Editus da UESC.
Cacauicultura:
a CEPLAC e a vassoura de bruxa em CAMACAN é o título que
engloba as duas monografias.
A primeira, Sociedade e Economia: a presença da CEPLAC
em Camacan tem como autor Luiz Cláudio Zumaeta. Nesta Monografia. O autor
apresenta aspectos gerais do que chama de micro-história da região cacaueira quando
faz referencia à emancipação e a “instalação definitiva do município em 07 de
abril de 1963 quando da posse do Presidente da Câmara, Senhor Boaventura
Ribeiro de Moura” (p.38). A partir do capítulo III, desenvolve o texto
historiográfico mais específico à sua proposta de estudo, qual seja, a
implantação do escritório da CEPLAC no Município, uma exigência da economia
cacaueira local. Descreve a criação da CEPLAC - Comissão Executiva do Plano de
Recuperação Econômico-Rural da Lavoura Cacaueira, pelo Governo federal, através
do Ministério da Fazenda - e a
conjuntura econômica do município que justificou a abertura do escritório em
Camacã em maio de 1964.
O autor enriquece o
texto com imagens do município, da primeira sede da CEPLAC (hoje sede da
Prefeitura municipal), gráficos e tabelas, além de documentos anexados que
colaboram com a compreensão da história da produção de cacau no município.
A segunda monografia,
de autoria do Prof. Renato Zumaeta, foi intitulada Contratempos: cacau e cacauicultura em Camacan. O autor fez um
recorte de uma década na história camacanense, de 1980 a 1990. Isto nos permite
ter uma ideia do auge da produção do cacau e dos fatores que desencadearam a
crise que provocou uma decadência na economia cacaueira regional.
Renato Zumaeta utilizou
a memória dos habitantes locais como fontes orais realizando uma conexão muito
pertinente com as ricas referências do seu aporte bibliográfico para
desenvolver sua historiografia regional.
Com os referenciais
teóricos, o autor apresenta a história da introdução do cacau na região, as
contradições quanto ao local de sua plantação e a criação da cidade de
Canavieiras em 1890. Os relatos orais darão conta de informar sobre as
incursões na Mata Atlântica realizadas pelos chamados “pioneiros”, para semear
as primeiras sementes de cacau o que propiciará o nascimento do Povoado do
Vargito e mais tarde, o nascimento da Vila Camacan como ponto estratégico para
reduzir a demografia do Vargito, uma doação do Sr. João vargens.
O autor apresenta ainda,
dois fatos importantes para então introduzir os fatores que levaram à crise da
cacauicultura: o processo de substituição da civilização indígena local,
habitantes da Mata, pela chamada “civilização do cacau”, também desenvolvida na
Mata, no sistema, hoje denominado, Agroflorestal Cabruca e, a emancipação
política de Camacan como fator de estabilidade econômica e franco
desenvolvimento da monocultura do cacau.
Conforme o tema da
monografia, o autor dedicou maior atenção à crise da lavoura cacaueira e a
devastação da lavoura pela “vassoura-de-bruxa”. Trouxe imagens e tabelas para
que a narrativa histórica fosse melhor compreendida. Já na conclusão, o autor
faz um relato muito importante para a história atual de Camacã: o êxodo rural
devido à crise, a explosão demográfica e seu esvaziamento devido à emigração de
seus habitantes para outros centros urbanos em busca de trabalho. Juntamente a
este fato está o início do desmatamento desenfreado da Mata Atlântica pelos
proprietários das fazendas de cacau em busca da reposição do rombo econômico
causado pela perda das lavouras de cacau.
O livro, portanto, é
uma oportunidade de conhecer melhor a história do Município de Camacã e de
refletir sobre os caminhos que se pretende vislumbrar para o seu
desenvolvimento presente e futuro, sem esquecer que a história de uma cidade é
construída pelas interrelações de seu povo.
Devemos estão refletir
sobre toda a riqueza que fora produzida nesta terra e sobre a herança deixada às
gerações atuais e futuras. Não se trata de reivindicar bens materiais, estes
são perecíveis e se tornam pó. Penso na herança cultural, na educação de qualidade
para a população que teve o trabalho cotidiano como contribuição para escrever
a história de prosperidade material. Qual o Teatro? Qual o Cinema? Qual o
monumento histórico cultural? Tal qual alguns municípios da região cacaueira,
Camacã hoje justifica que sua maior herança cultural é seu povo. No entanto, o
povo constrói, produz cultura, não pode ele mesmo ser considerado cultura. Este
me parece um argumento dos que nada fazem para que os elementos culturais sejam
transformados em herança cultural para esta e as futuras gerações.
“A cidade de Camacan é sede do município com o mesmo nome, situada a 15º41’ de Latitude Sul e a
39º49’ de Longitude Oeste; o município integra a Microrregião 31 ao Sul do
estado da Bahia e, tem como limites Norte os município de Arataca, Jussari e
Itaju do Colônia; ao Sul, Mascote e Potiraguá; ao Leste, Santa Luzia e a Oeste,
Pau Brasil.” A localização do Município de Camacã é apenas uma das informações
iniciais deste livro que pretende tratar da Trajetória,
das Permanências e Transformações Têmporo-Espaciais da cidade de Camacan.
Os autores são professores-pesquisadores da UESC e apresentam os resultados de
pesquisas realizadas no município. O livro está internamente dividido em três
capítulos. Cada autor, em seu estilo, escreve sobre a economia pulsante dos
áureos tempos do cacau e das mazelas existentes devido ao crescimento
desordenado e à pobreza recorrente em meio aos “frutos de ouro”.
O primeiro capítulo é assinado pela
Profª Clarice Gonçalves Souza de Oliveira e é intitulado: “Crise da cacauicultura e transformações no território cidade de Camacan
e sua Região de inserção”. Neste capítulo, os leitores encontrarão um
retrato da economia cacaueira no município, a distância entre a riqueza
produzida e a paisagem urbana e, os impactos da crise sob o olhar dos
moradores.
“Cidade de Camacan, transformações
socioespaciais e região: interpretando os conteúdos da paisagem” é o
segundo capítulo, escrito pelo Profº Gilmar Alves Trindade. Neste capítulo, o
autor mostra as singularidades do processo histórico de transformações sofridas
pelo município. O autor aborda ainda a emigração e as expectativas de
crescimento urbano de Camacan para o século XXI.
A Profª Maria Helena Gramacho centra sua
abordagem nas dimensões culturais e sua produção a partir da chegada dos
“pioneiros” ou “desbravadores”. O título do terceiro e último capítulo é: “Camacã: símbolo das territorialidades da
cultura cacaueira”. Este capítulo fala sobre as permanências e transformações
sofridas pelo município e traz um
elemento novo para um livro que pretende um enfoque histórico-geográfico: A ESPERANÇA. Esperança de ruptura com
uma sociedade rural dominante, esperança de ruptura entre o rural e o urbano,
esperança de ver a economia agrícola diversificada e uma
lavoura cacaueira restabelecida e tecnologicamente mais desenvolvida.
A pesquisa demonstrou “um olhar crítico
sobre a tradição cultural da antiga região cacaueira, às vezes uma certa
revolta contida, mas mostrando, no jogo da alteridade, o quanto todos mudaram”.
O livro é um passeio imagético com
muitas fotografias da cidade e das paisagens do município.
Aos meus queridos Jovens Leitores, estas
são minhas dicas de leitura para quem quer conhecer suas raízes. Ih!!! Isto me
lembra outro livro (Raízes do Brasil), mas este será para outro momento, em seu
tempo...
0 comentários:
Postar um comentário